sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

There she goes...

There she goes again… (who is she?)
… walking down the street …(who is she?)

Vai pela rua, numa noite de Sexta-feira. Vai sozinha, com passos leves se equilibrando entre a sarjeta e a calçada.
Vai com um vestidinho rosa, chinelos havaianas, cabelos presos, uma flor atrás da orelha.

There she goes, there she goes, singing aloud. (Who is she? )
Vai cantando, braços abertos, como se só houvesse ela na rua. Vai cantando para a noite ouvir e nem se importa com as outras pessoas que a olham estranhando.
Numa mão um celular mal cuidado, na outra as chaves de casa.
Vai cantando, peito aberto, pela rua.

E naquele momento ela é feliz, naquele momento é ela mesma, naquele momento, verdadeira, cantando alto pras estrelas escutarem.

There she goes, there she goes, walking down the street, singing aloud, there she is, there she’s happy. Who is she???



“ …we’re all of the stars; we’re fading away; just try not to worry, you’ll see us someday…”

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Página Vazia

Uma noite quente de fim de ano
O vento sopra pela janela e refresca
E a menina dali olha a cidade
Da cozinha de sua casa, de seu mundinho
Uma luz acesa, uma xícara de café com leite
Um rádio tocando MPB
A menina e a mulher dentro de mim se mesclam
Sento aqui e escrevo
Escrevo só pelo prazer de escrever
Escrevo pra preencher mais uma noite sozinha
Escrevo porque a vida em palavras parece mais leve
Leve, fresca, morna, reconfortante, melodiosa
Como o vento que me bate às costas
Como a café com leite que tomo sem açúcar
Como a música que me acompanha sempre, e sempre preenche meus silêncios

Ao longe, num apartamento, uma luz se acende.
Observo do camarote da minha janela o acender e apagar das luzes da cidade,
Sento e escrevo.
Para preencher uma folha da agenda,
Uma noite,
Uma vida


"A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é pra corrigir essa distância que a literatura nos importa."
(Roland Barthes)

Ps.: o título "Página Vazia" é de um poema de Euclides da Cunha, poema que adoro

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Morros sem fim


Estava dentro do ônibus, numa viagem curtinha entre duas cidades esquecidas do interior de São Paulo. Voltando pra casa. Mas eu não queria chegar. Não queria chegar pra perceber que não mudou nada. Não queria chegar pra achar a casa sozinha, as mesmas bagunças que deixei quando saí, pouca comida na geladeira e as louças por lavar. Também não queria chegar para achar minha mãe com cara de entediada, agindo como se nem minha mãe fosse. Não queria chegar pra voltar de volta à realidade da minha vida. Não queria voltar. Não quero voltar. Não quero continuar. Tudo que queria era continuar naquele ônibus, ouvindo minhas músicas como estava, com o vento batendo na cara e vendo pela janela a procissão de paisagens passar sem fim. Morros, pastos, pedras, morros, cercas, casinhas, morros. Verdes, cobertos de imenso tapete verde ou de pequnas matas. Morros, morros, sem fim, banhados pela luz avermelhada do Sol já escondido, e o azul escuro da noite que enfim vinha chegando, já quase oito da noite, horário de verão. E ver as estrelas surgirem, e a lua aparecer. E continuar correndo. Mas lá na frente despontaram as luzes da cidade. O ônibus chegou ao seu destino, não ia continuar para lugar algum. E eu, resignada tive que voltar, novamente expulsa dos sonhos, caindo dolorosamente na minha realidade.