terça-feira, 16 de outubro de 2007

Aulinha de química para os que sofrem calados

De repente, sem a voz se levantar, algo muito grande muda de figura. Não cai e quebra, cristal em mil pedaços. É uma solução no laboratório de química, que quando adicionada uma gotinha muda silenciosa e asustadoramente rápido de cor, do rosa sonhador para o azul cinza chumbo , ou então que por ter sido deixado aberto o frasco, foi-se evaporando (que solução extremamente volátil essa... pobre dos que esquecem a tampa do frasco aberta) .
A tristeza é silenciosa e muda como todo o resto. Muda a boca. Muda a boneca.
Ou talvez (ainda uma metáfora a mais) é um frasco de perfume deixado ao sol. O maravilhoso perfume foi perdendo seu cheiro dentro do belo frasco.... e só da noite pro dia é que se deu conta disso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sorvete de Goiaba

Há alguns tombos que nos desorientam por completo, há situações pelas quais se passa que não se desja ao pior inimigo, que não se imagina ser possível existir, que não se imagina ser possível com você. Mas passam. Às vezes uma pequena incômoda imagem ainda quer vir à tona, mas deve-se espantá-la como se espanta uma mosca. E ela passa. E o que fica é a força que vem do amor, é a doçura silenciosa de, mesmo não tão junto, ter pessoas queridas, é a imensa alegria (apesar de melancólica) de ter planos e sonhos e esperanças tão grandes que não nos deixam cair. É pisar, quase que não pisando, no chão, quase que flutuando, sobre folhas secas. Pisar nos astros distraidamente. Saborear a imensa doçura da vida, da paz, e reconhecer que se tem muito, mesmo que às vezes pareça tão pouco, reconhecer que se tem muito tendo a paz que inexiste naquelas situações que nos desorientam. Reconhecer que mesmo triste, a vida é doce, e não é triste. Você tem motivos para sorrir.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Lágrimas vermelhas como o céu, como a Lua, empapam o esparadrapo que estrangula o peito.

Lágrimas silenciosas espremidas, num ônibus lotado de dorminhocos, no calor caótico do trânsito da capital.
Silenciosamente solitárias.
Água salgada ocular para tentar limpar imagens da memória.
Memórias não vividas de abraços apertados a tentar acalmar a dor de um peito enfaixado, justamente enfaixado, costurado com grossas fitas a apertar as costelas.
A dor psíquica quase se torna física.
Estrelas, céu, mar, pedras, passos com pressa, lágrimas, risadas, sonhos, devaneio vão, vã tentativa de esquecer a verdade.
À beira da janela tristes folhas de eucalipto balançam à brisa fétida do trânsito da capital.