quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Noite em Família

O choro inconsolável da filha tirou-a do seu sono para observá-la desfazer-se em lágrimas. Frente à resposta fraca e molhada da menina de "nada" à sua pergunta do que houvera, acomodou-se dura no batente da porta, e com dura expressão ali continuou, sem dizer palavra.
Sentou-se à mesa, comeu sozinha, assistiu passivelmente ao jornal e à novela, ignorando os ruídos de resto de choro vindos do quarto da menina, que se jogara na cama de roupa e de tênis, e após muitas lágrimas abafadas adormecera, dando silêncio e paz para a mãe terminar sua novela e entregar-se também às densas ondas de sono.

domingo, 16 de setembro de 2007

Vácuo

No aconchego de metal da minha cama vazia, meu quarto imerso em sombras, músicas silenciosas que só eu ouço abafam dos ouvidos o resto das vozes do mundo. Estou deitada, encolhida em uma bolha de vácuo cheia de silêncio e música. O deserto é aqui, e o ar machuca os pulmões assim como água gelada não mata a sede. O sangue que sai da caneta macula a pureza cândida da folha virgem. A paz do isolamento confunde as imagens de felicidade ou tristeza. É ter paz no caos. É ser feliz com os olhos inchados de choro. As distâncias são quilométricas, são de semanas, meses, anos. São distâncias de silêncio e palavras perdidas, de saudades e de falta, de abraços queridos, de beijos desejados, de toques ansiados, de planos e sonhos traçados, de sonhos que se compões paisagem a paisagem na sequência de uma jenela de ônibus. Minha felicidade é feita de silêncio, de sonhos, de lágrimas, de música.