segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Felina

Como um gato
num muro
sem sono na noite
sentindo o vento, enfrentando-o
como se enfrenta onda forte do mar.
A cidade dormindo
um pingo ou outro caindo
e eu encarapitada, invisível para o mundo
ao som de Led Zeppelin e Legião.
Um estranho aconchego que encontro
no escuro, no vento,
na solidão.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

The smell of butterflys

Apertada duramente, estou. Amarrada a tão doces e agora cruéis lembranças , eternamente as carrego comigo, em um caleidoscópio que oscila sempre entre o sorriso saudoso, agodão doce, e o amargo.
Este emaranhado de galhos que trago às costas tem ramos já secos, sem folhas verdes, sem frutos, mas que não consigo quebrar. As folhas secas trazem lembranças estampadas e se recusam a cair.
Queria eu seguir em frente mantendo esse pedaço de galho seco às costas, lembrando-me dele só quando me voltasse a contemplar as cenas gravadas e suas folhas, e um dia, semanas, meses depois da última olhadela, surpreender ( e surpreender-me) uma flor a desbrochar, e mergulhar novamente em seu encanto de branco, delicadas asas, seu perfume doce, de cor-de-rosa claro, a inundar-me toda.
Mas continuo, e não preciso nem mesmo voltar-me e olhar as folhas secas para ver suas imagens - elas estão gravadas em minhas retinas, e a cada segundo do relógio um fiapo de seu odor chega às minhas narinas, odor de folhas secas- a princípio bom, verde, mas logo em seguida o cheiro de verde em decomposição, não mais vivo, partida. E esta demora, ou incapacidade, da flor em florescer, pesa. Dobram-se-me os joelhos sob o peso dessa inexorável esperança sem membros.
Já não caminho por meus próprios músculos. Além da rotina, tudo que me move é só a leve brisa que passa pelos outros galhos da árvore, que por instantes põe-me frente aos olhos as outras folhas verdes ainda existentes, com cheiro de verde, de fresco; instantes em que estendo alguns dedos à frente, antes que volte a mim o melancólico cheiro das folhas secas.
Eu sou apenas o sussurro de minhas folhas e galhos.

Experimente cheirar : folhas verdes, cheira quase como pinheiro de natal; um saco cheio de folhas secas ; flores de perfume ligeiramente adocicado . Os cheiros têm significados que se explicam por si mesmos.




Apertada duramente, estou. Amarrada a tão doces e agora cruéis lembranças , eternamente as carrego comigo, em um caleidoscópio que oscila sempre entre o sorriso saudoso, agodão doce, e o amargo.
Este emaranhado de galhos que trago às costas tem ramos já secos, sem folhas verdes, sem frutos, mas que não consigo quebrar. As folhas secas trazem lembranças estampadas e se recusam a cair. Queria eu seguir em frente mantendo esse pedaço de galho seco às costas, lembrando-me dele só quando me voltasse a contemplar as cenas gravadas e suas folhas, e um dia, semanas, meses depois da última olhadela, surpreender ( e surpreender-me) uma flor a desbrochar, e mergulhar novamente em seu encanto de branco, delicadas asas, seu perfume doce, de cor-de-rosa claro, a inundar-me toda.
Mas continuo, e não preciso nem mesmo voltar-me e olhar as folhas secas para ver suas imagens - elas estão gravadas em minhas retinas, e a cada segundo do relógio um fiapo de seu odor chega às minhas narinas, odor de folhas secas- a princípio bom, verde, mas logo em seguida o cheiro de verde em decomposição, não mais vivo, partida. E esta demora, ou incapacidade, da flor em florescer, pesa. Dobram-se-me os joelhos sob o peso dessa inexorável esperança sem membros.
Já não caminho por meus próprios músculos. Além da rotina, tudo que me move é só a leve brisa que passa pelos outros galhos da árvore, que por instantes põe-me frente aos olhos as outras folhas verdes ainda existentes, com cheiro de verde, de fresco; instantes em que estendo alguns dedos à frente, antes que volte a mim o melancólico cheiro das folhas secas. Eu sou apenas o sussurro de minhas folhas e galhos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Margaridas

Colhi pequenas flores cor de lilás no canteiro em frente à minha casa na hora de sair. Depositei-as cuidadosamente num triste jardim, de vista tão bela. Repousa lá, amiga, frente à vista que amava, das trilhas que gostava de fazer, de sua paixão por cachoeiras. Repousa lá, amiga, 18 anos apenas, eternamente num jardim frente a belos morros.
Mais à frente no caminho, numa simples casa de roça na beira da estrada, de uma senhora gorducha e bonachona, colhi margaridas e florzinhas brancas que se chamam boa noite. Quando era criança, no dia de finados nós colhíamos margaridas e outras flores que cresciam na rampa abandonada da garagem do quintal da minha avó, e dávamos aos mais velhos para levarem ao cemitério.
Hoje ninguém mais leva flores apanhadas no quintal de casa ao cemitério. Levam vasos. Envoltos em plástico e ainda por cima com o cartãozinho do cemitério! E eles deixam no pára-brisas dos carros estacionados panfletos anunciando seus serviços e divulgando o sorteio de um jazigo (!) completamente quitado com três gavetas. Puro comércio.
Eu colhi minhas singelas margaridas, que vieram junto com insetos pequeninos, e as depositei junto daquela cuja casa me ensinou a amar as flores que nascem por si mesmas.
Acho que sou profundamente nostálgica em certos assuntos. As flores colhidas à beira do caminho hoje, levam consigo carinho e saudades. E minha imensa nostalgia.