sexta-feira, 31 de outubro de 2008

De todo coração

material etéreo
gira nas pontas
voa, voa, leveza.

branca, bela, bailarina

mas é que ninguém vê
por detrás da brancura
suor, sangue, lágrima
(literalmente, não só
metáfora ou clichê)
fedor, inveja, superação
caminho doloroso rumo à
beleza. perfeição das
formas
solidão
paixão

branca, bela, ela voa
pula, gira, encanta

Ah, mas que encanto essa bela
branca!

terá matéria?
etérea.
branca, bela, voa
encanta.
Giselle? Coppélia?

de quê será feito, afinal, essa bela?
tintas de Degas?
acordes de Tchaikovsky?
ou movimentos de Berjat?

será de açúcar essa fada?
será ela Ana? Botafogo, Pavlova ou secretária?
leve, bela
anda nas pontas
numa poça de azul no palco.
mais parece andar no mar
no ar

brancas, belas, leves, etéreas
dedico esses versos a todas elas
que amam, que sofrem, se dedicam
para dançar
é, dedico a todas elas
que não tem coisa mais encantadora
mais bela
que bailarina a se movimentar

terça-feira, 28 de outubro de 2008

sabe, de repente a inspiração me fugiu
a espontaneidade me fugiu
a excitação também me fugiu
e você fugiu de mim

sabe, é que eu fico cansada de esperar
tem essas grades que eu quero quebrar
distância que devia deixar de existir

sabe, às vezes eu fico fraca, fico boba
e essa incompatibilidade de tempo machuca
e cadê aquela nossa ligação?


sabe, é que isso me lembrou Rousseau
(é, com seu Emílio e educação)
a gente sacrificando o presente
na esperança do que tá por vir

sabe, por um nada eu sou capaz de chorar
querer perverter, querer mudar
mas é que esse hábito de sonhar
(e rimar)
tá enraizado aqui

sabe, aí eu pego as lembranças boas
e me alimento delas nos tempos ruins
esperando
esperando
esperando o dia que muda
(será que muda?)
a gente espera que sim

sabe, ah você sabe que isso machuca!
não sabe?
mas não dá pra reclamar
você sabe, não? lembra?
foi a gente (fui eu) que escolheu assim















e lá vai você, indo embora no monza ...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

De pedra (e alguns sonhos)

Por vezes pareço não ter mais forças. Por vezes tenho vontade de amolecer, dizer feminina, mole e bobamente "não me deixe só" para um alguém que se esconde no vazio. Simplesmente não mais resistir, deixar o peso ceder sobre as pernas moles, escorregar para o chão, escorregar nesse mau-estar.
Não mais resistir frente às centenas de rostos desconhecidos que esbarram meu caminho, aos carros que me cruzam em perigo constante, ao silêncio, à solidão, ao fedor que me invade as narinas, à tontura que me entorpece, às perdas, às ausências, às loucuras das relações e das pessoas. Dissolver. Disminliguir.
Mas então vejo minha silhueta na sombra projetada contra o chão. E percebo que não posso deixar-me amolecer, enfraquecer, pois assim estaria traindo a mim mesma.
Sim. Traição. Pois essa que sou é construção só minha.
Estive sempre sozinha, e sozinha me fiz. Em todos os tombos não apoiei-me em mão alguma para me reerguer. E, em todas as mais insanas dores estive só. Cada lágrima derramada foi matéria-prima do cimento que agora me sustenta.
Tive, por vezes, influências e abraços que me confortaram. Mas sozinha exorcizei meus próprios demônios. Sozinha descobri meios para isso. Apoiei-me na música, nas palavras e nos sonhos. A verdade é que ninguém me conhece por inteiro.
Pois assim me fiz. Sozinha, dura, de pedra. (É, assim mesmo, lembrando Clarice). Meus passos rápidos, meu olhar sério, são a minha obra prima e meu orgulho.
Não sei onde quero chegar. Mas sei que conto sempre comigo mesma.
E não devo me trair.
Fiz-me dura para viver; não para me esconder, não para esmorecer.
Para seguir meu caminho e enfrentar o mundo. (ou se não o mundo, ao menos as barreiras na minha frente)
Sem medo. Sem nojo. Sem vergonha.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

palavrinhas-chaves

poesia, liberdade, proteção, fertilidade

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Perdidos Achados

Não é sangue o que me corre nas veias,
é verdade.
A verdade que existo,
que estou aqui agora
e que meus pés tocam o chão.

Um rio de palavras me corre nas veias;
grande parte da minha matéria é de papel.

(25/02/08)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"Eu me aprofundei em mim e encontrei que eu quero vida sangrenta..." (Clarice)

Eu não sou boa.
Dentro de mim há também preconceito.
Floresce-me também raiva, medo, desdém,
orgulho, vaidade, ódio, desejo
e até alguma perseverança.
Não digas que sou boa:
não me conheces por inteiro.
Não me tires todo o peso,
pois essa leveza não combina
tanto assim com a minha alma.