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O choro inconsolável da filha tirou-a do seu sono para observá-la desfazer-se em lágrimas. Frente à resposta fraca e molhada da menina de "nada" à sua pergunta do que houvera, acomodou-se dura no batente da porta, e com dura expressão ali continuou, sem dizer palavra.
Sentou-se à mesa, comeu sozinha, assistiu passivelmente ao jornal e à novela, ignorando os ruídos de resto de choro vindos do quarto da menina, que se jogara na cama de roupa e de tênis, e após muitas lágrimas abafadas adormecera, dando silêncio e paz para a mãe terminar sua novela e entregar-se também às densas ondas de sono.
No aconchego de metal da minha cama vazia, meu quarto imerso em sombras, músicas silenciosas que só eu ouço abafam dos ouvidos o resto das vozes do mundo. Estou deitada, encolhida em uma bolha de vácuo cheia de silêncio e música. O deserto é aqui, e o ar machuca os pulmões assim como água gelada não mata a sede. O sangue que sai da caneta macula a pureza cândida da folha virgem. A paz do isolamento confunde as imagens de felicidade ou tristeza. É ter paz no caos. É ser feliz com os olhos inchados de choro. As distâncias são quilométricas, são de semanas, meses, anos. São distâncias de silêncio e palavras perdidas, de saudades e de falta, de abraços queridos, de beijos desejados, de toques ansiados, de planos e sonhos traçados, de sonhos que se compões paisagem a paisagem na sequência de uma jenela de ônibus. Minha felicidade é feita de silêncio, de sonhos, de lágrimas, de música.