segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Água viva

Esquece-me.
Eu não fui feita para ser lembrada.
Eu devo ser, para ti, como a chuva:
É maravihoso tomar chuva, sentir os pingos no corpo, abrir a boca para o céu a fim de abocanhar gotas geladas.
Mas depois que a chuva se vai, fica-se com frio.
E se não se seca e toma-se um banho quente, fica-se doente.

Ser como a chuva é doloroso.
Depois que ela cessa e o Sol a evapora, não sobram pistas de sua passagem.
Mas aprendi (ou estou aprendendo) a me conformar.
Com meu estado líquido, cainte, efêmero.
Minha alma em tempestade vai (tem que!) aprender a se aceitar.

Esquece-me.
Chuva não é pra ser eterna. Chuva passa.
Tome um banho quente. Ponha roupas limpas. Espere, que o Sol já vem me evaporar.

Eu chovo. Verbo personalíssimo.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Almofada cor-de-rosa

Nós temos fragilidades. Teremo-as sempre, mesmo que por algum tempo esquecidas. Alguma hora alguma coisa vem es acordam-nas. E a gente toma um tapa na cara: a fragilidade continua ali a nos atormentar, não sumiu como julgávamos. E aquelas pessoas que nos ajudaram a levantar da primeira vez , não, não estão mais lá para dar a mão.
...
E tu jurastes! Jurastes pra ti mesmo que não contarias para mais ninguém; que aquele era o único que podia te ajudar quando essa dor viesse, que podia conhecer teu segredo mais íntimo, teu pesadelo mais sombrio. E ele não está mais. E tu jurastes. Jurastes!
agora estás sozinho. Não há mais a quem recorrer que conheça-te tanto, que entenda-te, que possa apoiar-te sem se assobrar com a bagagem que trazes.
Roubaram-te as muletas antes que pudesses afirmar as pernas e disseram-te: anda!
Se não conseguires andar, que mais te resta?

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Felina

Como um gato
num muro
sem sono na noite
sentindo o vento, enfrentando-o
como se enfrenta onda forte do mar.
A cidade dormindo
um pingo ou outro caindo
e eu encarapitada, invisível para o mundo
ao som de Led Zeppelin e Legião.
Um estranho aconchego que encontro
no escuro, no vento,
na solidão.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

The smell of butterflys

Apertada duramente, estou. Amarrada a tão doces e agora cruéis lembranças , eternamente as carrego comigo, em um caleidoscópio que oscila sempre entre o sorriso saudoso, agodão doce, e o amargo.
Este emaranhado de galhos que trago às costas tem ramos já secos, sem folhas verdes, sem frutos, mas que não consigo quebrar. As folhas secas trazem lembranças estampadas e se recusam a cair.
Queria eu seguir em frente mantendo esse pedaço de galho seco às costas, lembrando-me dele só quando me voltasse a contemplar as cenas gravadas e suas folhas, e um dia, semanas, meses depois da última olhadela, surpreender ( e surpreender-me) uma flor a desbrochar, e mergulhar novamente em seu encanto de branco, delicadas asas, seu perfume doce, de cor-de-rosa claro, a inundar-me toda.
Mas continuo, e não preciso nem mesmo voltar-me e olhar as folhas secas para ver suas imagens - elas estão gravadas em minhas retinas, e a cada segundo do relógio um fiapo de seu odor chega às minhas narinas, odor de folhas secas- a princípio bom, verde, mas logo em seguida o cheiro de verde em decomposição, não mais vivo, partida. E esta demora, ou incapacidade, da flor em florescer, pesa. Dobram-se-me os joelhos sob o peso dessa inexorável esperança sem membros.
Já não caminho por meus próprios músculos. Além da rotina, tudo que me move é só a leve brisa que passa pelos outros galhos da árvore, que por instantes põe-me frente aos olhos as outras folhas verdes ainda existentes, com cheiro de verde, de fresco; instantes em que estendo alguns dedos à frente, antes que volte a mim o melancólico cheiro das folhas secas.
Eu sou apenas o sussurro de minhas folhas e galhos.

Experimente cheirar : folhas verdes, cheira quase como pinheiro de natal; um saco cheio de folhas secas ; flores de perfume ligeiramente adocicado . Os cheiros têm significados que se explicam por si mesmos.




Apertada duramente, estou. Amarrada a tão doces e agora cruéis lembranças , eternamente as carrego comigo, em um caleidoscópio que oscila sempre entre o sorriso saudoso, agodão doce, e o amargo.
Este emaranhado de galhos que trago às costas tem ramos já secos, sem folhas verdes, sem frutos, mas que não consigo quebrar. As folhas secas trazem lembranças estampadas e se recusam a cair. Queria eu seguir em frente mantendo esse pedaço de galho seco às costas, lembrando-me dele só quando me voltasse a contemplar as cenas gravadas e suas folhas, e um dia, semanas, meses depois da última olhadela, surpreender ( e surpreender-me) uma flor a desbrochar, e mergulhar novamente em seu encanto de branco, delicadas asas, seu perfume doce, de cor-de-rosa claro, a inundar-me toda.
Mas continuo, e não preciso nem mesmo voltar-me e olhar as folhas secas para ver suas imagens - elas estão gravadas em minhas retinas, e a cada segundo do relógio um fiapo de seu odor chega às minhas narinas, odor de folhas secas- a princípio bom, verde, mas logo em seguida o cheiro de verde em decomposição, não mais vivo, partida. E esta demora, ou incapacidade, da flor em florescer, pesa. Dobram-se-me os joelhos sob o peso dessa inexorável esperança sem membros.
Já não caminho por meus próprios músculos. Além da rotina, tudo que me move é só a leve brisa que passa pelos outros galhos da árvore, que por instantes põe-me frente aos olhos as outras folhas verdes ainda existentes, com cheiro de verde, de fresco; instantes em que estendo alguns dedos à frente, antes que volte a mim o melancólico cheiro das folhas secas. Eu sou apenas o sussurro de minhas folhas e galhos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Margaridas

Colhi pequenas flores cor de lilás no canteiro em frente à minha casa na hora de sair. Depositei-as cuidadosamente num triste jardim, de vista tão bela. Repousa lá, amiga, frente à vista que amava, das trilhas que gostava de fazer, de sua paixão por cachoeiras. Repousa lá, amiga, 18 anos apenas, eternamente num jardim frente a belos morros.
Mais à frente no caminho, numa simples casa de roça na beira da estrada, de uma senhora gorducha e bonachona, colhi margaridas e florzinhas brancas que se chamam boa noite. Quando era criança, no dia de finados nós colhíamos margaridas e outras flores que cresciam na rampa abandonada da garagem do quintal da minha avó, e dávamos aos mais velhos para levarem ao cemitério.
Hoje ninguém mais leva flores apanhadas no quintal de casa ao cemitério. Levam vasos. Envoltos em plástico e ainda por cima com o cartãozinho do cemitério! E eles deixam no pára-brisas dos carros estacionados panfletos anunciando seus serviços e divulgando o sorteio de um jazigo (!) completamente quitado com três gavetas. Puro comércio.
Eu colhi minhas singelas margaridas, que vieram junto com insetos pequeninos, e as depositei junto daquela cuja casa me ensinou a amar as flores que nascem por si mesmas.
Acho que sou profundamente nostálgica em certos assuntos. As flores colhidas à beira do caminho hoje, levam consigo carinho e saudades. E minha imensa nostalgia.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Aulinha de química para os que sofrem calados

De repente, sem a voz se levantar, algo muito grande muda de figura. Não cai e quebra, cristal em mil pedaços. É uma solução no laboratório de química, que quando adicionada uma gotinha muda silenciosa e asustadoramente rápido de cor, do rosa sonhador para o azul cinza chumbo , ou então que por ter sido deixado aberto o frasco, foi-se evaporando (que solução extremamente volátil essa... pobre dos que esquecem a tampa do frasco aberta) .
A tristeza é silenciosa e muda como todo o resto. Muda a boca. Muda a boneca.
Ou talvez (ainda uma metáfora a mais) é um frasco de perfume deixado ao sol. O maravilhoso perfume foi perdendo seu cheiro dentro do belo frasco.... e só da noite pro dia é que se deu conta disso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sorvete de Goiaba

Há alguns tombos que nos desorientam por completo, há situações pelas quais se passa que não se desja ao pior inimigo, que não se imagina ser possível existir, que não se imagina ser possível com você. Mas passam. Às vezes uma pequena incômoda imagem ainda quer vir à tona, mas deve-se espantá-la como se espanta uma mosca. E ela passa. E o que fica é a força que vem do amor, é a doçura silenciosa de, mesmo não tão junto, ter pessoas queridas, é a imensa alegria (apesar de melancólica) de ter planos e sonhos e esperanças tão grandes que não nos deixam cair. É pisar, quase que não pisando, no chão, quase que flutuando, sobre folhas secas. Pisar nos astros distraidamente. Saborear a imensa doçura da vida, da paz, e reconhecer que se tem muito, mesmo que às vezes pareça tão pouco, reconhecer que se tem muito tendo a paz que inexiste naquelas situações que nos desorientam. Reconhecer que mesmo triste, a vida é doce, e não é triste. Você tem motivos para sorrir.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Lágrimas vermelhas como o céu, como a Lua, empapam o esparadrapo que estrangula o peito.

Lágrimas silenciosas espremidas, num ônibus lotado de dorminhocos, no calor caótico do trânsito da capital.
Silenciosamente solitárias.
Água salgada ocular para tentar limpar imagens da memória.
Memórias não vividas de abraços apertados a tentar acalmar a dor de um peito enfaixado, justamente enfaixado, costurado com grossas fitas a apertar as costelas.
A dor psíquica quase se torna física.
Estrelas, céu, mar, pedras, passos com pressa, lágrimas, risadas, sonhos, devaneio vão, vã tentativa de esquecer a verdade.
À beira da janela tristes folhas de eucalipto balançam à brisa fétida do trânsito da capital.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Noite em Família

O choro inconsolável da filha tirou-a do seu sono para observá-la desfazer-se em lágrimas. Frente à resposta fraca e molhada da menina de "nada" à sua pergunta do que houvera, acomodou-se dura no batente da porta, e com dura expressão ali continuou, sem dizer palavra.
Sentou-se à mesa, comeu sozinha, assistiu passivelmente ao jornal e à novela, ignorando os ruídos de resto de choro vindos do quarto da menina, que se jogara na cama de roupa e de tênis, e após muitas lágrimas abafadas adormecera, dando silêncio e paz para a mãe terminar sua novela e entregar-se também às densas ondas de sono.

domingo, 16 de setembro de 2007

Vácuo

No aconchego de metal da minha cama vazia, meu quarto imerso em sombras, músicas silenciosas que só eu ouço abafam dos ouvidos o resto das vozes do mundo. Estou deitada, encolhida em uma bolha de vácuo cheia de silêncio e música. O deserto é aqui, e o ar machuca os pulmões assim como água gelada não mata a sede. O sangue que sai da caneta macula a pureza cândida da folha virgem. A paz do isolamento confunde as imagens de felicidade ou tristeza. É ter paz no caos. É ser feliz com os olhos inchados de choro. As distâncias são quilométricas, são de semanas, meses, anos. São distâncias de silêncio e palavras perdidas, de saudades e de falta, de abraços queridos, de beijos desejados, de toques ansiados, de planos e sonhos traçados, de sonhos que se compões paisagem a paisagem na sequência de uma jenela de ônibus. Minha felicidade é feita de silêncio, de sonhos, de lágrimas, de música.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Mas o Sol insistiu em nascer de manhã... em me tirar da cama, me empurrar pra vida, e sem dar importância para meus olhos inchados me disse assim: " The show must go on! "

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Indagações

Alguma vez você já teve vontade de que te enrolassem em panos quentes, como se enrola um bebê? Já sentiu vontade de ficar pequenininha, num silêncio profundo, como dentro de um ovo?
Já...?

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ao chão

De repente, então, um anjo cai ao solo, com as asas quebradas.
No pedregulho ajoelhado, traz a pele esfolada,
curvado pra frente, todo seu corpo treme, com dificuldade de respirar.
O coração ele sente bater doloridamente, não no peito, mas nas costas, e a cabeça roda
roda
O rosto, nada angelical, se cobre de lágrimas, inchado, vermelho e quente.
Levado por impulso tenta falar, mas nada inteligível se desprende de sua língua em meio à saliva excessiva.
Nas mãos trêmulas segura pedacinhos estilhaçados dalguma coisa que ele pensou talvez ser um brinquedo, ou de borracha. Tenta em vão montar o quebra-cabeças em suas mãos, mas cacos estão perdidos.
Tenta em vão remontar os quadros dos fatos, mas sua cabeça já os embaralhou em meio a tantas quadros que ele gostaria de esquecer. Parece agora, muito mais um zumbi.

Um pobre anjo jaz no chão, despedaçado, pagando caro pelos erros. Pagando caro pelo seu maior erro: não perceber, por muito grande e valioso tempo, que estava errando.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Alada, lunar

Pés descalços e luzes apagadas na casa vazia.
Da janela entreaberta vêm os ruídos urbanos
a se misturar com a música;
vem o assobio do vento gelado
e vem a única luz, branca, lunar
a iluminar precariamente a cozinha.
E se este cândido disco se esconde entre as nuvens
e a penumbra a invade,
não traz luz, não - deixa-a assim.
Então quem sabe um anjo
que passe e veja de cima
naquela penumbra
aquela menina
no seu triste (será?)
momento de paz
espalhe pro resto dos seres alados
que uma pequena
tão tenra e terrena
traz nas costas
transparentes, etéreas asas,
mas não se deu conta
nem pode voar.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Coração amarelo

Eu trago no peito a eterna tristeza
daqueles que sorriem ao ver uma bela árvore,
daqueles que observam as flores ao seu caminho,
daqueles que lêem versos.
Trago comigo a eterna tristeza
daqueles que sorriem ao fitar um rosto de criança,
daqueles que se deixam levar por uma melodia,
daqueles que morrem de rir.
Ao mesmo tempo que o sorriso aparece
as lágrimas estão a querer saltar,
sem motivo. Só porque trago
no peito essa eterna tristeza
que vai furando devagarinho,
ponta de lápis sendo girada no queijo
esburacado do meu coração.

domingo, 8 de julho de 2007

O pote que pariu

" (...) Agora, de volta, achamos o pote tibi emprenhado. A barriga do pote fosse agora um canteiro arrumado. Estava bom de criar. Foi que veio dái um passarinho e cagou na barriga do pote uma semente de roseira. As chuvas e os ventos deram à grvidez do pote forças de parir. E o pote pariu rosas. E esplendorado de amor ficou o pote! De amor, de poesias e de rosas. "
(Manoel de Barros)

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Cana queimada, melancolia

O vento gelado traz o inconfundível cheiro de cana queimada, que impregna agora todas as noites depois que os canaviais entraram em cima das outras terras na corrida pelo progresso. Puxo mais para perto o casaco. A Lua, amarela e achatada como uma bola murcha, faz com que eu me pregue no chão. O silêncio de uma cidade adormecida cheira a cinzas. Os olhos ardem, na garganta faz-se um nó. Os olhos se fecham e a melodia leve e triste de um piano se materializa em meus ouvidos. O coração se aperta, se asfixia e se divide.
Alegrias e tristezas andam sempre de mãos dadas.
Uma lágrima escorre pelo rosto ardente.
E o cheiro de cana queimada me envolve a ponto de me levar a um estado de transe.
Revejo cenas confusas, pele, boca, pele, ônibus, pele, salto preto, pele, estátua, pele, farelos de borracha, pele, remédio, pele com pele. Uma bailarina gira infinitamente em meio à névoa asfixiante.
Os lábios se abrem em uma palavra inexistente.
E ao longe, em meio a tanta fumaça, um piano que só eu ouço não pára nunca sua valsa triste.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

enrole a língua, beba ainda quente

O silêncio às vezes conforta.
Mas às vezes ele se aproxima
feito lança comprida e pontiaguda,
fria e inflexível, a penetrar-me
a carne lentamente, exibindo,
arrogante, um brilho frio de metal,
carregado de intolerância e superioridade tola.
Machuca. Começa a querer sangrar.
Sem reclamações se segue.
É silêncio.

terça-feira, 12 de junho de 2007

No silêncio de um amor

Te amo - português
Lubim ta - eslovaco
Ha eh bak - turco
Ya vas liubliu - russo
Ngiyakuthanda - zulu
Je t'aime - francês
I love you - inglês
Te quiero - espanhol
Wo le ni - chinês
Aishiteru - japonês
Ich liebe dich - alemão
Ya te volim - croata
Tora dost daram - persa
Sakan te volim - macedônio
Gramo te bue - lituano

Te amo pode ser dito em várias línguas. Nenhuma porém é mais sincera que a língua universal do amor. No silêncio, olho no olho, mãos unidas, corações acelerados o amor se mostra em toda sua força e beleza.


Dedicado ao garoto que me fez descobrir tudo isso.

domingo, 3 de junho de 2007

eu quero....

Um dia quero uma casa e uma vida, do jeito que quero.. do jeito que espero
Andar descalça na grama molhada do jardim, comer fruta na mão, ter uma "banheira da vovó" pra tomar banhos longos, quentes e bem cheirosos, ter uma estante abarrotada de livros, deitar numa rede colorida para lê-los, e também pra aproveitar a sesta.
Ter vasinhos de flores nas janelas, comer brigadeiro na panela com colher-de-pau, se enfiar debaixo de um edredon pra assistir filme nas tardes frias de chuva, sentar no jardim pra sentir o aroma de dama-da-noite nas noites quentes de luar, e ali ficar por horas, aproveitando uma boa conversa.
Comer pastel de queijo na feira de domingo, fazer bolo, se lambuzar com cobertura, tomar banho de mangueira e banho de chuva, fazer guerra de travesseiro, comer bolinho-de-chuva, café com leite bem quente. Sentar em cima do muro, olhar a cidade pela janela.
Viver

quinta-feira, 3 de maio de 2007

A menina da saia branca

Desabafo estrangulado
Gritaria mental
Cansaço
Imagina-se tudo o que se quer falar
e nada se diz.
Lágrimas espremidas,
de crocodilo,
fazem brilhar meus olhos vermelhos....

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Renata

Uma amiga hoje foi viajar. Embarcou numa barca em formato de cisne e partiu em direção oeste. Percorreu intermináveis mares até a terra das praias brancas, e mais ao longe, sobre uma verde colina, encontrou a cidade em que se instalou. Cândida cidade onde passará todo o resto do tempo do mundo. Agora ela tem todo o tempo do mundo.

Com essa fantástica imagem me consolo da dor de perder uma amiga. Andando pela cidade, mês pés me levariam a qualquer lugar, menos de volta pra casa. As tristes imagens eu agora quero apagar, pois tão jovem, deitada entre flores que não cessavam de chegar, no seu cândido leito final (ó, cândido leito funeral dos que se vão ainda puros), ela repousava. Uma delicada roupa em cor-de-rosa, um terço de pedrinhas entre as pálidas mãos, a face sem a alegria que costumava estampar, os olhos cerrados, eternamente cerrados.
Fui andando sem rumo certo, vendo o Sol se esconder atrás dos morros, pintando o céu de tons rosados, vendo o azul escuro ir tomando conta de tudo pouco a pouco, gradualmente, e estrelas irem saindo, até que o céu inteiro estava negro e salpicado de estrelas.
Nas noites sem lua as estrelas brilham ainda mais. Infinitas.

“Se o mundo é mesmo parecido como que vejo prefiro acreditar no mundo do meu jeito. (...) Então de hoje em diante todo dia vai ser o dia mais importante.”

Vai com os anjos. Vai em paz....

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Comunicado

Olá! Há algum tempo tive vontade de postar diferentes tipos de textos, mas esse blog é muito "meu" para postar coisas diferentes... e sinceramente gosto dele assim. Então estou inaugurando um novo blog, Arquivos da Caxola , onde publicarei outros tipos de textos (narrações, dissertações..) e ireri mantendo os dois blogs paralelamente. Visitem e dêem sua opinião!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Bailarina Urbana

À noite
no barulhento silêncio da cidade,
me perco vendo as estrelas.
Quem dera eu
mergulhar
nessa imensidão escura;
entre as estrelas dançando,
fazendo piruetas, distraída,
sobre os astros;
ao ritmo dos sons urbanos.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Encadeada

Medo
Atrás de cada esquina pode estar um bandido, um menino,
pés no chão, canivete.
Corra! Não espere escurecer! Pega a chave,
tranca a porta, cadeado.
Se feche: entre quatro paredes cuide da sua casa,
sua filha, sua imagem, sua moral.
Chore! Chore!
Você se prende, se isola e depois reclama solidão.

Não! Me larga!
Abro a porta e o cadeado- saio na rua
roubo uma flor
sento na praça
na calçada
deito no chão no concerto
danço no meio do povo
e dou risada.
Deixa eu abrir minhas asas!
O medo que sinto não me acorrenta.
Meu coração quer voar.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Brutal

Pelos dias, coisas que vejo, histórias que escuto, me espanto.
Raiva, incredulidade, desesperança: vejo mais e mais que o homem é ridículo, estúpido, bruto. Uma infinidade de defeitos que se irradiam e estragam tudo o mais a sua volta.
Me revolto, me entristeço.
É como se eu pudesse ver, no longo corredor as duas crianças loirinhas encolhidas à porta, chorando por ouvir os macabros sons que vinham do quarto.
É como e eu pudesse ver a garotinha sair correndo da sala para o quarto e fingir que estava dormindo ao ouvir o som do carro de seu pai chegando do trabalho.
É como se eu pudesse ver tudo aquilo que eu não queria que existisse.
Me assustei com isso quando descobri
Que é algo mais comum do que eu imaginava
Mais horrível do que eu podia me lembrar e
Que está mais próximo de mim do que eu podia querer.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Turbulência

Me perdi em meus caminhos
as mãos e o corpo todo tremia
o rosto vermelho e quente
a respiração arquejante e quebrada.
Me mesclei dentro de mim
a vontade de quebrar tudo e a consiência de não fazê-lo
discutindo em minha cabeça já tão quente.
A vontade louca de sair correndo batia de frente com o bom senso
(maldito bom senso!).
Por fim deixei que as leis da inércia vencessem
e o bom senso dissesse "muito bem"
e a parte de mim que gritava
agora amarga letargicamente o brilho frio da tela do computador.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Sobre homens e mulheres e suas almas em comum

É dia das mulheres, e se ouve falar da causa feminista
vêem-se caminhadas, protestos, das diferenças
.... mas eu desconfio que homens e mulheres são bem mais parecidos do que se alega
Não, não que sejam iguais.
Mas no fundo, no fundo são almas humanas
que querem felicidade, amor, que passam por bons e maus momentos,
que se apaixonam, que sofrem.
O que vejo por aí é que muitos (homens e mulheres) não querem revelar suas almas, e se escondem atrás de mitos (que homem não chora, que mulher chora por qualquer coisinha...) e acabam se distanciando.
Mas o que me encanta é ver os que saem dos mitos e se mostram, e as distâncias diminuem, e a gente consegue compreender mais e ser mais compreendidas.
Homens vão sempre ser homens. E as diferenças sempre vão existir.
Mas no fundo, bem lá no fundo, a essência da alma é assexuada.
Lá somos iguais.
E lá, tudo o que mais se quer é amor.

sábado, 3 de março de 2007

Se esse palco falasse....

O negro chão que piso, amplo e quente, é como pisar em areia de praia, em terra vermelha de barro: me sinto viva. De compridas e negras cortinas ladeado: refúgio, esonderijo. Quantas coisas podem sair por detrás dessas coxias, meu Deus? Num quadrado de 10 por 10 metros, cabe muito mais que só 100m quadrados, cabe um infinito. Não aguentava mais de saudades, saí correndo e me joguei de volta e fiquei deitada me interando desse palco. E dele não queria mais sair.
Dizem que para o artista o palco é um lugar sagrado. É mesmo. Mas para mim, esse palco em especial é também minha casa. Antes mesmo de ele ser construído eu já estava ali. Vi ele ser erguido e não teve mês que se passou em que eu ficasse sem ele. Nesse palco subo e deixo pra trás todo mal ou preocupação, e quando desço volto renovada, com vontade de aprender, descobrir, pesquisar, viver a arte.
Simplesmente: Eu Amo a Fábrica de Expressão!!!!

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Recado ao senhor do 903

(Entre os exercícios de português atrasados que fui colocar em dia, pude me deliciar com esse texto de Rubem Braga que merece ser levado adiante.

“Vizinho-
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível ao 903 dormir quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita: pois, como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903- que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, de ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo.
Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109, que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda o outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
...Mas que seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em sua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela.”
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos do vizinho entoando para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. ”
(Rubem Braga)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Carnaval

Estava sentada sozinha na noite e na rua. Tentava sufocar as mágoas num gordo pão de mel. Deitei, olhando o céu, ouvindo música. As estrelas brilhavam sem muito brilho, pálidas e bobas, distantes. Uma, porém, passou a brilhar mais e mais, sozinha bem na reta do meu olhar, e naquele momento pensei “solitária como eu”. Tentava evitar as lágrimas que queriam escorrer de meus olhos desenhando imaginariamente figuras geométricas nas estrelas. De repente uma palavra de uma estranha indagando se eu queria ajuda (me confundindo com os inúmeros bêbados que jazem pelas calçadas nessa época) fez desencadear meu choro desconsolado. Chorava e já nem sabia mais porque chorava, chorava feito criança, esperando uma resposta das estrelas, esperando delas um abraço, um apoio que não veio.

Já em casa tudo em mim se misturava. A música, o banho quente, o barulho distante de uma cachoeira, lágrimas, duas meninas conversando numa pedra à beira d’àgua, a água quente caindo na nuca, dois corpos salpicados de sol de fim de tarde numa esteira sobre a grama fofa embaixo de uma árvore, a conversa sincera, o mal-estar do choro, os gritos recentes: desabafos enraivecidos, o rosto inchado. Palavras silenciosas ecoando em minha cabeça. Uma boca cuspindo um texto pronto feito da minha desgraça, soletrando palavra por palavra o que eu viria a digitar depois. Maldita boca cheia de palavras que não deixa minha cabeça.

Depois me arrumei e me fiz bela, passei a maquiagem, coloquei a máscara de menina animada e saí pra uma noite inteira pulando. Era carnaval.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Morri

e não me dei conta
no momento em que entrei nesse mundo.
Mas passei a viver
como alma translúcida
observando a vida ao redor.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Seu Domingos

Um velhinho pequenino, de cabelos brancos e ralos, a calva subindo pela cabeça, mais avançada nas suas laterais. O rosto sempre sério, expressão fechada, braços cruzados. Uns óculos de armação fininha apoiados sobre o nariz do rosto enrugado de pele clarinha. Um jaleco sempre sujo de giz com uma caneta no bolso. Os cabelinhos ralos que insistem em ficar despenteados lhe dão um arzinho de “professor maluco”.
Suas aulas são odiadas por grande parte dos alunos. Ele enche a lousa com desenhos complicados e explicações em letras miudinhas. Fala pouco, explica rapidamente a matéria e não troca com os alunos uma única palavra que não seja relacionada a ela. Poucos ousam fazer-lhe perguntas.
Dizem que já deu aula em grandes escola e universidades e para grandes nomes como Maluf (!) e Chico Anísio (!!!!!!!!!!!!). Dizem que já foi alegre e brincalhão, viajava com os colegas e fazia tudo por uma cervejinha. Dizem que trabalhava demais, mas um dia decidiu parar e se dedicar à sua amada. Dizem também que no momento em que decidiu dedicar-se a ela, para um câncer perdeu-a. Dizem que a partir daí passou a viver amargurado.
Hoje tem sua rotina. Corre todas as manhãs, almoça sempre no mesmo restaurante com uma latinha de Skol. Dá aulas mecanicamente em uma escola particular numa cidadezinha de interior, ensinando a adolescentes da elite local, mimados e desrespeitosos. Conversam enquanto ele explica sua matéria. De 35 alunos, 7 prestam atenção. Eu presto atenção. Não à matéria, pois biologia não me interessa minimamente. Presto atenção nele. Sua voz que parece uma gravação de aula pronta, sua impaciência ao não receber respostas às suas perguntas, seus gestos sérios, sua expressão inalterável diante da barulheira na classe, seu olhar perdido na sala, evitando outros olhares, seu jeito curvadinho de escrever na lousa. Tudo nele me intriga. Quem é o homem por trás do professor? Observo-o longamente durante a aula e escrevo. Tudo que faço é observar e tentar compreender esse velhinho que de repente eu surpreendi me encarando. E por alguns segundos nos encaramos nos olhos.
Bate o sinal. Ele pega o caderno de chamada, a caixa de giz e sai pelos corredores para seu almoço solitário com companhia apenas da latinha de Skol.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Momento pra recordar

Numa tarde quente, num quarto escuro eu cochilava levemente a preguiça de depois do almoço.
Encolhida, de lado, abri ligeiramente os olhos e me deparei, tão perto do meu rosto, com um outro rosto, que com a expressão de quem vê o pôr-do-sol na praia ou uma lua cheia entre morros, assistia atencioso meu sono.
Com os olhos quase fechando envolvi com minha mão sua nuca e guardei como tesouro a lembrança daquele momento, porque nada mais importava, fose sono ou calor. Só o amor expresso naqueles dois rostos tão próximos.
Sem palavras.
Momento pra recordar e expor placidamente numa bolha de sabão.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Ahh, essa menina....


Lá vai a menina falando de si mesma na terceira pessoa. Muitas vezes ouviu dizer que era perfeita, mas tem real consciência que não é. Porque insiste em ser modesta, mesmo quando sabe que não devia ser, e já ouviu muitos “Deixa de ser modesta, que saco!”.
A menina fica sozinha em casa, larga o uniforme amarrotado em cima da cama, esquece de pôr as meias pra lavar e acaba sempre perdendo um pé delas. Passa o tempo lendo revistas e livros ou desenhando e ouvindo música, e se esquece de lavar ou passar suas roupas, e depois não tem roupas limpas ou passadas pra vestir, ou esquece de lavar as louças, e sua mãe quando vê fica louca, ou esquece de estudar, fazer aquele exercício, separar a apostila que tinha de levar pra aula seguinte.

Esquece da vida e se atrasa pra aula de dança, desce as ruas da pequena cidade quase correndo e já chega na aula cansada. Fica sozinha e anda de calcinha pela casa, mas às vezes esquece alguma cortina aberta e corre a se abaixar para evitar o olhar dos vizinhos. Senta-se à mesa e tira os chinelos, estende uma perna apoiando o pé na outra cadeira e quando levanta esquece os chinelos embaixo da mesa. Esquece a garrafa d’água destampada e o pacote de pão aberto. Coloca o som no último volume, canta e dança feito louca (pobres vizinhos...).

Acaba com suas unhas, arrancando pedacinhos, cortando-as muito curtas, acaba se machucando. Não resiste a cutucar uma espinha na testa ou espremer um cravo no nariz. Passa os dias contando calorias, mas acaba deslizando e se tacando num pacote de bolachas ou numa lata de leite condensado.
Isola-se do mundo com seu MP4, e se transporta a um mundo paralelo, observando as pessoas, tentando imaginar o que sentem, porque são assim e não assado. Durante as aulas, ouve música, escreve textos na agenda e nos cadernos, desenha nas folhas da apostila onde devia fazer exercícios, se perde em pensamentos, não revela o que sente. Vê em cada coisa do seu dia um assunto para novos textos, escreve vários e muitos outros ficam só no projeto mental. Em vez de dizer o que sente, transforma os sentimentos em poesias, publica-os no blog e pede para estranhos lerem.
A menina se perde em sonhos, pensamentos, ilusões. Sonha alto mas nunca sai do lugar; as fitas das sapatilhas de ponta que usa em cada um desses sonhos amarram seus pés fortemente ao chão.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Projetos de um futuro bom

Um apartamento pequeno: sala, quarto, banheiro, cozinha e uma varandinha no centro de São Paulo. Na sala um sofá colorido, uma TV pequena, um rádio constantemente ligado, uma antiga vitrola. Na estante, prateleiras cheias de livros, CD´s, DVD´s e antigos discos de vinil. Num canto uma mesa redonda, um lap top e vários livros, projetos, trabalhos, canetas e lápis. Noutro canto uma poltrona e uma luminária de chão, cantinho da leitura. Pelas paredes quadros de camurça cheios de desenhos e recortes espetados com alfinetes.
Na cozinha uma mesinha de parede e banquinhos, armários branquinhos e a porta da geladeira coalhada de fotos em imãs. Pratos, copos e xícaras coloridos nos armários.Sobre a mesa joguinho americano , um pacote de pão integral pela metade, um pote de bolachas e outro de granola, um vidro de Nescafé, uma colher fora do lugar, uma garrafa de mel. Ao lado do microondas uma fruteira, algumas bananas (talvez um pouco passadas), umas laranjas, uma pêra. Na pia algumas louças por lavar, duas taças com um restinho de vinho no fundo.
No quarto, uma cama com almofadas coloridas e uma ou outra peça de roupa que não se guardou.Uma mesinha, um abajur, um livro, um porta retratos, os óculos. Uma arara cheia de cabides no lugar do guarda-roupa, uma cômoda com gavetas um pouco desarrumandas e sobre ela caixinhas e frasqueiras cheias de miudezas, um copo com pentes e escovas. Nos pés da cama um baú cheio de recordações, alguns all stars e chinelos jogados, ao canto um par de sapatilhas. Nas paredes quadros de metal com fotos, montagens com recortes e desenhos e umas telas. Um lampião japonês pendendo do teto.
No banheiro a pia cheia de frascos, uma escova de dentes e pasta. Um vasinho de flor.
Na varanda uma rede, vários vasos de plantas e pendurado um mensageiro dos ventos (aquela coisa que quando o vento bate faz barulho) de bambu.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Prisão de Sombras

Feriado, sol brilhando, aquela vontade de sair. Sentir o Sol na pele (que se foda o calor) e quem sabe um ventinho, ou uma sombra, sentar embaixo de uma árvore.
Mas não, com lágrimas quase caindo fui trazida de volta a essa casa. Grande, confortável. Detestável.Portas, janelas e cortinas fechadas, tudo na penumbra. Na sala luzes e ventilador ligados e na TV o eterno som do futebol. Me fechando, sufocando. Prisão de livros, desenhos e o brilho insensível do monitor.
Tento espantar os fantasmas. Saio de perto do interminável futebol e da sala artificial, ponho uma música vou pra fora. A horrível prisão da rotina... enfadonha.
Na hora em que finalmente saí, o tempo resolveu concordar com meu estado de espírito. Uma baita chuva. E depois andando pelas ruas estranhamente desertas de lojas fechadas, tempo fechado, uma nova e triste São Paulo. Onde normalmente se viam ambulantes e milhões de pés apressados, uma mendiga solitária encostada no parede de um grande prédio, ohando desolada a rua estranhamente silenciosa, e os poucos pés que passavam por ela.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Aula de ballet

5, 6, 7, 8....
estica a perna!, primeira posição!, olha a cabeça!, leveza! , marca essa cabeça!, e frapé, e balloné, e grand batteman, segue o tempo da música!!! plié! em baixo e relevé! fiquem, fiquem.... e desceu.
HOR-RI-VÉL!!!!!
tudo de novo

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Chuva e Lágrimas Cinzentas


São Paulo num dia de chuva
cinza, séria, barulhenta e corrida como sempre
e nesse dia de chuva, os rostos na periferia, no ponto de ônibus, no metrô lotado parecem ainda mais sem esperanças, apreensivos, cansados...
Numa rua estreita e movimentada,ônibus passando o tempo todo, de casas simples e comércio barato, suja e miserável, um sobradinho branco que se ergue acima da garagem desafiando o cinza dominante, e abaixo da janela com grades surge um canteirinho de flores vermelhas e espinhosas.
Numa grande avenida, correndo no meio do trânsito, quase uma dúzia de molequinhos de no máximo seis anos... caras e roupas sujas, alguns com tênis e sandálias velhas, outros descalços, segurando os chinelos na mão para correr, atravessando como um bando desnfreado a avenida e cruzando a frente de ônibus e carros.
No metrô uma mãe de rosto procupado, cansado e sem esperanças. E sua filha ao lado, essa como eu, quieta, observando os rostos e espressões. Mais tarde em outro vagão um velho mendigo, levando seus pertences dentro dum saco de estopa, curvado, os braços entre as pernas e cabeça baixa, como se tivesse vergonha de levantar o olhar, como se não pudessa oçhar as outras pessoas nos olhos, vergonha de admitir sua posição. Levanta-se, olha em volta rapidamente e desce na sua estação, andando curvado, olhar baixo...
...se vai, se perde entre às pessoas no metrô, triste e silencioso, no mar de rostos sem esperança e cansados,no caos do trânsito, na cinza São Paulo que chora junto com a chuva.

*Pulga atrás da orelha: Quem foi o anônimo que comentou aqui e me deixou um poema/música lindooooo do Oswaldo Montenegro???????????????????????? Pleeeeeeaseee identifique-se!!!

Metade de mim é amor... e a outra metade também

Metade

"Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisaque resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menossuportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fuia outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também."
(Oswaldo Montenegro)

sábado, 13 de janeiro de 2007

Poderias... ou não

O que realmente importa?
Planos futuros?
compatibilidade de expectativas?
Ou o hoje?
Por muito tempo me esquivei, e deixei de viver, por medo do que "poderia"
Enfim me libertei dos "poderias" .... eu quero saber do hoje
E hoje eu queria dormir abraçada contigo
E hoje eu digo que te amo
E só não quero pensar que um dia vai acabar
(pode ser semana que vem, ano que vem, daqui a dois anos ou a 80....)
Mas eu não quero pensar
Por favor não me faça pensar
não me deixe chorar, não me deixe voltar a viver nos "poderias"
porque só o que queria hoje era dormir enrolada em você
e o futuro tá que nem uma folha em branco
é a gente que vai desenhar a estrada pela qual seguimos.

sábado, 6 de janeiro de 2007

Ai....

Noite
Chuva
Saudades
Expectativa (FUVEST essa semana)
Frio
...
Um arrepio percorre meu corpo... sem sentido.... sem sentido
e negra é a perspectiva de passar um mês longe de ti...

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

È ANO NOVO
ROMPO A CASCA
E ME RENOVO
(Denizis Trindade)

Hoje um estranho vazio me invadiu. Talvez o dia, chuvoso e de céu cinza claro (quase branco) tenha influenciado. Talvez só o vazio comum das férias (a falta de compromissos). Mas a verdade é que nada perdi para sentir tamanho vazio. Somente um ano que ficou pra trás. (e que ano!)
Um ano com vários momentos difíceis, ruins, tristes, mas também com muitos momentos bons, felizes, emocionantes.
Nesse ano, quantas lágrimas derramei, por tristeza, preocupação, saudades, nervosismo, ou mesmo sem motivo. Quantas risadas dei (sorrisos, risadas, gargalhadas) felizes, incontroláveis, sem graça, engraçadíssimas, intermináveis. Quantos abraços dei, quantas pessoas abracei (ah os abraços, os adoro! esses, sempre sinceros!)
Quantos sonhos, projetos, expectativas... e também quantas decepções. Quantas surpresas inesperadas, quantas pequenas vitórias, quantos pequenos fracassos. Quantas tardes vazias, quantos passos. Quantas músicas cantei e ouvi repetidamente, quantos lápis gastei desenhando, quanto tempo passei quieta, olhando o céu e os morros até cansar. Quantas vezes tive vontade de sair correndo, quantas vezes saí sozinha sem saber que rumo tomar. Quantos beijos, quantos textos, quantas imagens, quantas piruetas, quantas conversas, quantos pulos, quanta gente.
Não há como fazer um balanço concluindo: “foi um ano bom” ou “foi um ano ruim”. Não. Foi um ano vivido. Porque acho que a vida é realmente isso, uma mistura de bons e maus momentos, felizes e tristes, luminosos e escuros. Sei é que foi um ano intenso, porque de todas sensações que experimentei, nenhuma foi superficial, irrelevante. Esse foi um ano que me marcou e me mudou muito. É isso, foi um ano de mudanças (aprender a lidar com mais problemas, aprender a ficar sozinha, aprender a estar junto). Foi um ano em que vivi, intensamente, e enfrentaria todos os maus momentos de novo, pois viver vale a pena.
Foi um ano de mudança, da vida fácil de criança, pra vida de verdade. Só o começo da vida. E se esse é só o começo, Meu Deus, quantos anos ainda estão por vir.
Temos todo tempo do mundo...
(somos tão jovens...)






Tudo que tenho é a certeza da incerteza do amanhã.