quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Despertar Triste

uma ilusão tão viva...
estávamos juntos, todos conversando,
a pequena fazia bagunça com a válvula da descarga,
ela mostrava uma saia antiga,
ele só ouvia
e eu me preparava pra entrar no banho.
Era fim de tarde em casa de roça,
o vento soprava fraquinho,
peguei a toalha no varal, mato.
Ele pegou a pequena que fazia bagunça no banheiro -
eu ia tomar banho, oras!
Ela me ajudava a abrir o zíper do vestido nas costas.
No momento em que me virei
nada mais havia.
Só essa saudade, essa falta, o vazio...
e a cama quentinha que eu tinha de deixar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008


Ela me olhou séria através do espelho.

_Sem dó?
_Sem dó!

A tesoura rangeu e muito cabelo vermelho foi ao chão.

sábado, 20 de setembro de 2008

úmido

é chuva, é cinza, é um sorriso ausente de meus lábios
até forço, mas ele não quer vir não

é saudade, são sonhos
sonhos de futuro, sonhos que embalam,
mas que também potencializam a saudade

é solidão, solidão...
e essa distância que corta, aperta.
afogo tudo no efeito narcótico dos sonhos, da evasão, sair de mim
(e talvez algum àlcool, passos de danças loucas...)

é bom até
conseguir por um momento
loucamente acreditar que os beijos jogados pela janela vão atingir seu destino
(então uma força vinda sabe-se lá de onde me faz realmente levantar, abrir a janela e soprar beijos para o ar da noite)
e essas lágrimas que não sei por que vêm
de onde vêm

só espero, loucamente também, ouvir as batidas dos abraços na minha janela

(onde estão? onde estão?)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Casa

Faz calor. Uns trinta graus. Sol. O tempo é seco. (umidade do ar cerca de 17% - mais de 140 dias sem chovar)
Quase cinco da tarde - o céu é claro, azul quase branco sobre o verde de um morro de um lado. Os pés de Macaúba se destacam entre as outras árvores. Do outro lado o Sol se esconde atrás de nuvens brancas, deixando os raios dourados passarem por suas bordas. A luz me deixa ver apenas o contorno negro da copa redonda e cheia de galhos retorcidos do grande pé de Espatódia.
Não vejo as cinzas agora, mas sei muito bem que a cana queimada me cerca por todos os lados. De vinte em vinte minutos a boca fica seca. Quero água.
Abri a porta da sala para deixar entrar uma brisa, mas o ar está parado. Somente o barulho dos carros que passam voando na rodovia.

Noite passada fiquei bastante tempo do lado de fora. Vendo a Lua e ouvindo os sons... do vento na copa das árvores, das folhas e ciscos sendo carregados pelo chão, das cigarras, da rodovia ao longe...

Minha vontade agora é deitar no chão da varanda - chão de azulejos brancos recém lavados, refrescar o corpo semi-nu.

Eu adoro esse lugar!