sexta-feira, 5 de agosto de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Curtindo um Rilke shake
sereia à sério
o cruel era que por mais bela
por mais que os rasgos ostentassemfidelíssimas genéticas aristocráticas
e as mãos fossem hábeis
no manejo de bordados e frangos assados
e os cabelos atestassem
pentes de tartaruga e grande cuidado
a perplexidade seria sempre
com o rabo da sereia
não quero contar a história
depois de andersen & co.
todos conhecem as agruras
primeiro o desejo impossível
pelo príncipe (boneco em traje de gala)
depois a consciência
de uma macumba poderosa
em troca deixa-se algo
a voz, o hímen elástico
a carteira de sócia do méditerranée
são duros os procedimentos
bípedes femininas se enganam
imputando a saltos altos
a dor mais acertada à altivez
pois
a sereia pisa em facas quando usa os pés
e quem a leva a sério?
melhor seria um final
em que voltasse ao rabo original
e jamais se depilasse
em vez do elefante dançando no cérebro
quando ela encontra o príncipe
e dos 36 dedos
que brotam quando ela estende a mão
::: Angélica Freitas. Rilke shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007) ou Rilke Shake: Ausgewählte Gedichte(Wiesbaden: Luxbooks, 2011) :::
sexta-feira, 17 de junho de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
O "fim da história"
Sequestro da linguagem
(Frei Betto)
Primeiro, disseram que não haveria mais guerrilhas.
Acreditei e, com as botas, abandonei sonhos revolucionários.
Em seguida, disseram que terminara a luta armada.
Tornei-me pois violento pacifista.
Depois, disseram que a esquerda falira,
E fechei os olhos ao olhar dos pobres.
Enfim, disseram que o socialismo morrera,
E que uma palavra basta: democracia.
Então nasceu em mim
A liberdade de ser burguês.
Sem culpa.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Escovas de dente
21h30. Quarta-feira. A farmácia em frente ao ponto de ônibus perto de casa. Viu, preciso de escovas de dente! Vamo lá, rapidinho. Hmm, pacote econômico com três. Oral B Indicator. R$ 10,90. É. Deixa eu ver. Azul, verde. Prefiro esse aqui, que tem roxo e rosa. Pronto! Já esco... "Não olha pra minha cara não, não olha pra minha cara não!" Ahn!? Mas no instante de surpresa antes da compreensão, olhei. Boné. Jovem. Branco. Óculos. Gordinho. Camiseta. Revólver. Bermudas. Boné verde e preto. Revólver antigo, cor de prata, esverdeado. Marcas na pele, restos da adolescência . Revólver. Ahh! "Vamo, vamo, vamo!" Fudeu! Olhos no chão. Porra! A gente podia só não ter entrado agora! Fundo das lojas. Duas senhoras. Senhor. Funcionários. Cofre aberto. Chão. Mão. Sussuro. "Fica calma, tá?" "Tá" Chão. As escovas de dente na minha mão. Rápido. "Eu vou sair, ninguém vem atrás, hein, senão eu atiro em todo mundo! Não olha não, hein!" Pronto. Funcionária da loja, calma, procedimento de rotina. "Vocês estão bem? Levaram algum pertence de vocês? Querem água? Levaram o celular da firma do senhor, né? Olha, tá aqui o endereço da loja se for fazer B.O." "É a primeira vez que isso acontece?" "Não." Ah, tá bom, de rotina. Água. Não levaram nada da gente mesmo. Você tá bem? As senhoras tão bem? "Querem que a gente fique pra falar com a polícia, testemunhas?" "Precisa não, brigada." Ok, casa. Escovas de dente na mão. "Ah, moço, posso comprar as escovas agora?" "Desculpa, fechamos o caixa." Saco! As escovas fizeram falta.
...
Saco! É tão fácil, tão banal, tão presente, tão revelador. Diz tanto. E nós só pensamos nas escovas.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Para quem se constrói
"O que cada um de nós deve fazer em primeiro lugar, pois não temos outro remédio, é respeitar as nossas próprias convicções, não calar, seja onde for, seja como for, conscientes de que isso não muda nada, mas que ao fazê-lo, pelo menos tenho a certeza de que eu não estou a mudar."
(José Saramago: "La izquierda no tiene ni una puta idea del mundo" )
(José Saramago: "La izquierda no tiene ni una puta idea del mundo" )
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Complexidade
Queria pegar essa palavra e desmontar, separar letra por letra:
c - o - m - p - l - e - x - i - d - a - d - e
Selecionar:
m - p - l - e - i
Adicionar:
s - s
Rearranjar:
s - i - m - p - l - e - s
E te dar de presente.
Com toda a simplicidade...
... me ajuda a separar as letrinhas?
c - o - m - p - l - e - x - i - d - a - d - e
Selecionar:
m - p - l - e - i
Adicionar:
s - s
Rearranjar:
s - i - m - p - l - e - s
E te dar de presente.
Com toda a simplicidade...
... me ajuda a separar as letrinhas?
sábado, 8 de janeiro de 2011
O interruptor
Uma aranha pequenina sumiu de meus olhos atrás da caixinha do interruptor.
Um vão sujo, entre a caixinha de plástico mal pregada e o azulejo antigo, me deixa entrever um fio de outro mundo, até então desconhecido.
Ali, por detrás da caixinha do interruptor, viverão quem sabe quantas aranhas? Quantas pequenas vidas?
Dentro das paredes de minha casa, talvez uma sociedade. Entre os fios que levam nossos comandos de "acenda luz", entre circuitos que se abrem e se fecham, entre os pulsos do telefone, entre os canos que me trazem água limpa e levam água suja, famílias de oito patinhas.
Um vão sujo, entre a caixinha de plástico mal pregada e o azulejo antigo, me deixa entrever um fio de outro mundo, até então desconhecido.
Ali, por detrás da caixinha do interruptor, viverão quem sabe quantas aranhas? Quantas pequenas vidas?
Dentro das paredes de minha casa, talvez uma sociedade. Entre os fios que levam nossos comandos de "acenda luz", entre circuitos que se abrem e se fecham, entre os pulsos do telefone, entre os canos que me trazem água limpa e levam água suja, famílias de oito patinhas.
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