sexta-feira, 30 de maio de 2008

divagando - sentimentos esfiapados

É assim que acontece a maioria das vezes: as pessoas não percebem que machucam umas as outras. Elas não imaginam o sofrimento que pode estar escondido por trás de um sorriso-piloto-automático, sofrimento que elas próprias causaram.
Seremos realmente sistemas isolados? Meus olhos não comunicam ao outro meus sentimentos? Acho que a maioria de nós simplesmente não compreende os sinais... eles são tão sutis.
É preciso sensibilidade para enxergar além da casca – para ver além da superfície dos sorrisos, risadas, piadas, pilotos-automáticos.
A maioria de nós é em parte autista – só está pronta para tocar a casca da vida, das pessoas, dos sentimentos. A outra parte – líquida, intensa, implícita, extralinguística, sentimentos – essa maioria não consegue encarar nos olhos.
Nem tudo se fala – não é possível espremer a alma de uma pessoa em palavras como se espreme o suco de um limão.
Pensamentos são fiapos de fumaça. Sentimentos também, somente fiapos soltos, subindo e se perdendo na noite doce. E eu não posso fechá-los todos em minhas mãos, transformá-los todos em palavras. Dizer “triste” ou “amor”, é infinitamente mais impessoal do que observar esses sentimentos, extralinguisticamente, subirem em fiapos esbranquiçados no meio da escuridão, exalando toda sua essência: cheiro cinza-azulado de tristeza, cheiro vermelho-rosado de amor.

Eu quero sentir o sabor daquilo que se esconde por trás das coisas intocadas.

Nenhum comentário: