sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Vereda

O calor da tarde de novembro e a sonolência da sesta embalavam-na. O ar, parado, preenchido pelos murmúrios da televisão e o zunir de uma mosca. Batia incessante, incessantemente na janela, tentando retornar à rua.

Pernas flexionadas, plantas dos pés no chão, brincava com os dedinhos na textura do tapete. O calor, tanto, que suspendeu o tecido leve do vestido acima da cintura. Algodão branco, estrelas azuis, pousou-as sobre o peito. As mãos, acomodou-as sobre a pele fresca, agora livre, da barriga, que ronronava ainda e fazia os leves movimentos da digestão.

Os pensamentos passeavam, fiapos, soltos, aéreos, quarto abafado. Passeavam pelos acontecimentos, pelas palavras da senhora advertindo-a... Então... Mocinha... Sim, sabia também de várias colegas, da escola... Ah, mas essa mosca não sairá nunca para a rua? ... As colegas falavam de meninos, houve uma vez aquela festinha... Ai, lábios? Línguas? ... Sensação estranha deve ser, só pode! ... Podia abrir a janela para a mosca sair...

Tentou mover um pouco as mãos, levantar-se em direção à janela, tentativa sem forças. Pensamentos, fiapos, uma curiosidade foi tomando-a. Curiosidade lenta, receosa, fez sua mão, dedos finos, unhas roídas, deslizar lentamente, passando pelo umbigo em direção ao baixo ventre. Sentia ali, respiração, pele, penugem dourada.

Os músculos contraíram-se. O que fazia? Não parou, entretanto, o movimento lento e contínuo, numa linha descendente por seu corpo. Chegou à margem da calcinha, infiltrou os dedos por baixo do elástico, a boca já seca. Seguiam os dedos como cladestinos, invasores de um terreno privado, lentos, quietos, curiosos.

Passaram pela aspereza dos primeiros pelos púbios, inda nascentes. Os joelhos cederam para os lados, moles. Um estremecimento leve e constante, recheado de receio, sacudia o corpo magro. Sentia a ansiedade e excitação de um desbravador, que aprende lentamente os caminhos de um terra nova, não explorada.

Os dedos tateavam agora as macias carnes, tentando compreender sua anatomia. Percebeu a área úmida. Forças opostas pareciam agir sobre seu braço. Um pouco mais, só... Cerrou os olhos, lábios entreabertos. Só...

Paralisou-se, assustada. Quão longe fora! As pernas tremiam, moles como gelatina. Coração em baque disparado, boca seca.

Lentamente, lentamente, encolheu-se. A mosca já não zunia na janela... Acomodou-se. Ninho de almofadas. Aninhou-se. Urso de pelúcia. Abraçou-o. Lenta, lenta. Adormeceu.

2 comentários:

Ana Paula Saltão disse...

Doce.

x)

Me senti muito, muito, muito em casa no primeiro parágrafo. hehe

lucas(eumesmo) disse...

Palmas !