quinta-feira, 12 de julho de 2007

Coração amarelo

Eu trago no peito a eterna tristeza
daqueles que sorriem ao ver uma bela árvore,
daqueles que observam as flores ao seu caminho,
daqueles que lêem versos.
Trago comigo a eterna tristeza
daqueles que sorriem ao fitar um rosto de criança,
daqueles que se deixam levar por uma melodia,
daqueles que morrem de rir.
Ao mesmo tempo que o sorriso aparece
as lágrimas estão a querer saltar,
sem motivo. Só porque trago
no peito essa eterna tristeza
que vai furando devagarinho,
ponta de lápis sendo girada no queijo
esburacado do meu coração.

domingo, 8 de julho de 2007

O pote que pariu

" (...) Agora, de volta, achamos o pote tibi emprenhado. A barriga do pote fosse agora um canteiro arrumado. Estava bom de criar. Foi que veio dái um passarinho e cagou na barriga do pote uma semente de roseira. As chuvas e os ventos deram à grvidez do pote forças de parir. E o pote pariu rosas. E esplendorado de amor ficou o pote! De amor, de poesias e de rosas. "
(Manoel de Barros)

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Cana queimada, melancolia

O vento gelado traz o inconfundível cheiro de cana queimada, que impregna agora todas as noites depois que os canaviais entraram em cima das outras terras na corrida pelo progresso. Puxo mais para perto o casaco. A Lua, amarela e achatada como uma bola murcha, faz com que eu me pregue no chão. O silêncio de uma cidade adormecida cheira a cinzas. Os olhos ardem, na garganta faz-se um nó. Os olhos se fecham e a melodia leve e triste de um piano se materializa em meus ouvidos. O coração se aperta, se asfixia e se divide.
Alegrias e tristezas andam sempre de mãos dadas.
Uma lágrima escorre pelo rosto ardente.
E o cheiro de cana queimada me envolve a ponto de me levar a um estado de transe.
Revejo cenas confusas, pele, boca, pele, ônibus, pele, salto preto, pele, estátua, pele, farelos de borracha, pele, remédio, pele com pele. Uma bailarina gira infinitamente em meio à névoa asfixiante.
Os lábios se abrem em uma palavra inexistente.
E ao longe, em meio a tanta fumaça, um piano que só eu ouço não pára nunca sua valsa triste.