terça-feira, 4 de maio de 2010

Súplica

Ela o cavalgava, quieta. Sem prazer, para dar-lhe prazer.
Ele deleitava-se, olhos cerrados, perdido na maciez do travesseiro, perdido na maciez de suas carnes.
Ela lhe cravava olhos suplicantes, angustiados, invejosos de seu prazer.
"Olha-me! Olha-me!", diriam os olhos, se vistos.
Mas nunca assim seriam vistos. Súplica silenciosa.
"Quero compartilhar desse prazer!"
E os olhos suplicavam assim, como acreditando que, se mirados também, seriam sugados para dentro das ondas de prazer e calor que o sacudiam, enxarcavam.
Contraste. Ela branca, branquíssima, corpo seco, movimentação mecânica. Ele, pele molhada, morena, movimentando-se preguiçosamente, levado por arrepios. Perdido, maciez acima e abaixo, entre a brancura dos lencóis e a da pele dela.

A tristeza invadiu-a.
Ela chorou.
Ele, jorrou.

Um comentário:

Zombie =Z disse...

uma das melhores coisas que me lembro de ter lido. e apesar de fazer física, eu leia bastante coisas....