quarta-feira, 29 de junho de 2011

Curtindo um Rilke shake

sereia à sério

o cruel era que por mais bela
por mais que os rasgos ostentassem
fidelíssimas genéticas aristocráticas
e as mãos fossem hábeis
no manejo de bordados e frangos assados
e os cabelos atestassem
pentes de tartaruga e grande cuidado

a perplexidade seria sempre
com o rabo da sereia

não quero contar a história
depois de andersen & co.
todos conhecem as agruras
primeiro o desejo impossível
pelo príncipe (boneco em traje de gala)
depois a consciência
de uma macumba poderosa

em troca deixa-se algo
a voz, o hímen elástico
a carteira de sócia do méditerranée

são duros os procedimentos

bípedes femininas se enganam
imputando a saltos altos
a dor mais acertada à altivez
pois
a sereia pisa em facas quando usa os pés

e quem a leva a sério?
melhor seria um final
em que voltasse ao rabo original
e jamais se depilasse

em vez do elefante dançando no cérebro
quando ela encontra o príncipe
e dos 36 dedos
que brotam quando ela estende a mão


::: Angélica Freitas. Rilke shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007) ou Rilke Shake: Ausgewählte Gedichte(Wiesbaden: Luxbooks, 2011) :::

2 comentários:

Fontes disse...

Tamo falando com ela prum doc sobre poesia em sp. Eu, Marti, Hugo e Bruno. A mulher manda bem demais.

Maria Joana disse...

pô, que legal!!!!! quero saber mais disso aí!
(ps. vou te enviar minha análise que tinha falado, é se um poema dela tbm)