segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Paisagem

Cinco e quinze de uma tarde de segunda-feira, a garota sai de casa, tranca o portão e vai andando pelas ruas da cidade do interior. Leva uma mochila preta às costas, usa meia-calça da mesma cor e um all-star rosa velho e surrado. Vai seguindo seu caminho pelo centro da cidade, movimentado com a saída de alunos do período da tarde. Passa com passos firmes, rápidos, porém leves e silenciosos, por entre as pessoas. Passa silenciosa e séria, entre as conversas altas e risos. Só sua sombra vai ao seu lado, já bem alongada pelo sol que se vai deitando atrás das casas e morros. A garota passa despercebida. Parece não pertencer à realidade daquelas pessoas. Observa discretamente as pessoas, tenta imaginar as suas vidas, seus sentimentos. Ninguém, entretanto, conhece os seu sentimentos. Sente-se isolada das outras pessoas, que passam, ilham e não compreendem. Vai de cabeça baixa, sem sorrir, o cabelo esvoaçando à volta de seu rosto, tocado pela brisa da caminhada rápida. Vai seguindo sem interrupções ao seu destino, como sempre faz. Passando pela praça nota um garotinho debruçado da janela de sua casa. Ele não a nota, mas ela percebe, em seu olhar, que ele se sente quase como ela. Continua rumo ao seu destino. Ela é só mais um item que compõe a paisagem da cidade, às 5:15 das tardes de segunda-feira, sempre caminhando rápida e silenciosa rumo ao seu destino. Ergue cansada da rotina os olhos ao mundo, quentes ainda de tanto choro. Mas continua, afinal de contas, é paisagem...

Um comentário:

Anônimo disse...

Somos de tempos diferentes ,
mas de sentimantos iguais.

Amo te Minha Bela