sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Morros sem fim


Estava dentro do ônibus, numa viagem curtinha entre duas cidades esquecidas do interior de São Paulo. Voltando pra casa. Mas eu não queria chegar. Não queria chegar pra perceber que não mudou nada. Não queria chegar pra achar a casa sozinha, as mesmas bagunças que deixei quando saí, pouca comida na geladeira e as louças por lavar. Também não queria chegar para achar minha mãe com cara de entediada, agindo como se nem minha mãe fosse. Não queria chegar pra voltar de volta à realidade da minha vida. Não queria voltar. Não quero voltar. Não quero continuar. Tudo que queria era continuar naquele ônibus, ouvindo minhas músicas como estava, com o vento batendo na cara e vendo pela janela a procissão de paisagens passar sem fim. Morros, pastos, pedras, morros, cercas, casinhas, morros. Verdes, cobertos de imenso tapete verde ou de pequnas matas. Morros, morros, sem fim, banhados pela luz avermelhada do Sol já escondido, e o azul escuro da noite que enfim vinha chegando, já quase oito da noite, horário de verão. E ver as estrelas surgirem, e a lua aparecer. E continuar correndo. Mas lá na frente despontaram as luzes da cidade. O ônibus chegou ao seu destino, não ia continuar para lugar algum. E eu, resignada tive que voltar, novamente expulsa dos sonhos, caindo dolorosamente na minha realidade.

Um comentário:

R. S. Diniz disse...

Também sei o que é sentir isso...

Às vezes é bom pseudo-filosofar em viagens de ônibus. Hoje em dia eu levo 20 minutos no ônibus indo de casa pra escola. E menos ainda dependendo do horário.Tem vezes que eu lamento por não ter mais tempo pra viajar em meus pensamentos...


Mas o sentimento de voltar pra casa não é tão ruim.

=]