terça-feira, 6 de novembro de 2007





Apertada duramente, estou. Amarrada a tão doces e agora cruéis lembranças , eternamente as carrego comigo, em um caleidoscópio que oscila sempre entre o sorriso saudoso, agodão doce, e o amargo.
Este emaranhado de galhos que trago às costas tem ramos já secos, sem folhas verdes, sem frutos, mas que não consigo quebrar. As folhas secas trazem lembranças estampadas e se recusam a cair. Queria eu seguir em frente mantendo esse pedaço de galho seco às costas, lembrando-me dele só quando me voltasse a contemplar as cenas gravadas e suas folhas, e um dia, semanas, meses depois da última olhadela, surpreender ( e surpreender-me) uma flor a desbrochar, e mergulhar novamente em seu encanto de branco, delicadas asas, seu perfume doce, de cor-de-rosa claro, a inundar-me toda.
Mas continuo, e não preciso nem mesmo voltar-me e olhar as folhas secas para ver suas imagens - elas estão gravadas em minhas retinas, e a cada segundo do relógio um fiapo de seu odor chega às minhas narinas, odor de folhas secas- a princípio bom, verde, mas logo em seguida o cheiro de verde em decomposição, não mais vivo, partida. E esta demora, ou incapacidade, da flor em florescer, pesa. Dobram-se-me os joelhos sob o peso dessa inexorável esperança sem membros.
Já não caminho por meus próprios músculos. Além da rotina, tudo que me move é só a leve brisa que passa pelos outros galhos da árvore, que por instantes põe-me frente aos olhos as outras folhas verdes ainda existentes, com cheiro de verde, de fresco; instantes em que estendo alguns dedos à frente, antes que volte a mim o melancólico cheiro das folhas secas. Eu sou apenas o sussurro de minhas folhas e galhos.

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