segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Corta-noite

No pseudo-silêncio do ônibus, à meia-luz, invade-me os pensamentos uma inoportuna sensualidade. Finjo também dormir ao mergulhar nestes pensamentos, tão impróprios de se acalentar na companhia de quase meia centena de pessoas adormecidas. Uma dor latente tamborila-me as tempôras. Não sinto sequer uma gota de sono.
Desço à plataforma da parada.
Sinto, de repente, inveja de um casal qualquer, que por ali, entre risos, discute amenidades. Não têm nada de especial, assim como não o têm as pessoas em volta. Mas compartilham uma viagem.
As viagens de ônibus sempre me foram o momento de exaltação da minha solidão, independência e excentralidade. Meu monumento atemporal.
Só e calada, sisuda, acompanham-me os fones de ouvido, os livros e algum papel em branco.
Alguns bons momentos já cheguei a compartilhar, mas nunca uma viagem de ônibus. Elas sempre ficam nos planos felizes de algum futuro inexistente.

De repente um eco do passado surge. Inquieta-me por alguns minutos, mas é em seguida esquecido. Continuo a cortar a noite, já despida das esperanças infantis. Continuo, só, a curtir as horas de pura exaltação do meu monumento, atemporal.

Um comentário:

Pequi Atômico disse...

Eita Mari, a normalidade desse busão chega me assusta... parece até são paulo


Com certeza não era um ônibus com destino à 'Chabilândia', muito menos um rumando à 'Gleba do Pêssego'! hehehehe

Aqueles são onibus pra outras dimensões como a daquele bacana dia de domingo!