quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Seu Domingos

Um velhinho pequenino, de cabelos brancos e ralos, a calva subindo pela cabeça, mais avançada nas suas laterais. O rosto sempre sério, expressão fechada, braços cruzados. Uns óculos de armação fininha apoiados sobre o nariz do rosto enrugado de pele clarinha. Um jaleco sempre sujo de giz com uma caneta no bolso. Os cabelinhos ralos que insistem em ficar despenteados lhe dão um arzinho de “professor maluco”.
Suas aulas são odiadas por grande parte dos alunos. Ele enche a lousa com desenhos complicados e explicações em letras miudinhas. Fala pouco, explica rapidamente a matéria e não troca com os alunos uma única palavra que não seja relacionada a ela. Poucos ousam fazer-lhe perguntas.
Dizem que já deu aula em grandes escola e universidades e para grandes nomes como Maluf (!) e Chico Anísio (!!!!!!!!!!!!). Dizem que já foi alegre e brincalhão, viajava com os colegas e fazia tudo por uma cervejinha. Dizem que trabalhava demais, mas um dia decidiu parar e se dedicar à sua amada. Dizem também que no momento em que decidiu dedicar-se a ela, para um câncer perdeu-a. Dizem que a partir daí passou a viver amargurado.
Hoje tem sua rotina. Corre todas as manhãs, almoça sempre no mesmo restaurante com uma latinha de Skol. Dá aulas mecanicamente em uma escola particular numa cidadezinha de interior, ensinando a adolescentes da elite local, mimados e desrespeitosos. Conversam enquanto ele explica sua matéria. De 35 alunos, 7 prestam atenção. Eu presto atenção. Não à matéria, pois biologia não me interessa minimamente. Presto atenção nele. Sua voz que parece uma gravação de aula pronta, sua impaciência ao não receber respostas às suas perguntas, seus gestos sérios, sua expressão inalterável diante da barulheira na classe, seu olhar perdido na sala, evitando outros olhares, seu jeito curvadinho de escrever na lousa. Tudo nele me intriga. Quem é o homem por trás do professor? Observo-o longamente durante a aula e escrevo. Tudo que faço é observar e tentar compreender esse velhinho que de repente eu surpreendi me encarando. E por alguns segundos nos encaramos nos olhos.
Bate o sinal. Ele pega o caderno de chamada, a caixa de giz e sai pelos corredores para seu almoço solitário com companhia apenas da latinha de Skol.

2 comentários:

Eduardo Vilar disse...

Poucos alunos pensam nos professores como gente, é uma pena...
No terceiro ano eu me cansei dessa gente (maioria) e fui fazer amizade com os professores, e foi muito bom :)
beijos!

Memórias de Donha Baratinha: a baratinada, cascuda e sobrevivente disse...

E o mais engraçado é q além dos nomes serem parecidos, a idéia e o conteúdo dos blogs tb são... Menina, eu não sabia q tinha sido publicado o meu post não, eu só fiquei sabendo nesta semana, pq eu leio a revista qd minha irmã compra, mas como ela está viajando eu não li esse mês... daí ela me ligou e avisou... Bom, é isso, a gente vai se falando, bjux!