domingo, 29 de junho de 2008

Nota. Vidas ressecadas, sonhos tão universais. Percebe bem a beleza duma canção de lavadeira.


O Cordel Estradeiro
(Letra e música: Lirinha)

A bença Manoel Chudu
O meu cordel estradeiro
Vem lhe pedir permissão
Pra se tornar verdadeiro
Pra se tornar mensageiro
Da força do teu trovão
E as asas da tanajura
Fazer voar o sertão

Meu moxotó coroado
De xiquexique e facheiro
Onde a cascavel cochila
Na boca do cangaceiro
Eu também sou cangaceiro
E o meu cordel estradeiro
É cascavel poderosa
É chuva que cai maneira
Aguando a terra quente
Erguendo um véu de poeira
Deixando a tarde cheirosa
É planta que cobre o chão
Na primeira trovoada
A noite que desce fria
Depois da tarde molhada

É seca desesperada
Rasgando o bucho do chão

É inverno e é verão

É canção de lavadeira
Peixeira de Lampião
As luzes do vaga-lume
Alpendre de casarão
A cuia do velho cego
Terreiro de amarração
O ramo da rezadeira
O banzo de fim de feira
Janela de caminhão

Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola

Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana
Sendo de cima pra baixo
tanto corta como espana.
Sendo de baixo pra cima
voa do cabo e se dana.

3 comentários:

Fontes disse...

cordel é fantástico!
Eu já tentei fazer um, não consegui...

Bruna Escaleira disse...

ah, adoro cordel!

* Não sei se é mesmo verdade que 99% dos ecanos têm blogs, mas sempre é uma boa surpresa encontrá-los ;)

Mau Exemplo disse...

Me lembra uma banda q gosto, Cordel Do Fogo Encantado.

Mto bom teu texto.
Bjusssss