quarta-feira, 4 de julho de 2007

Cana queimada, melancolia

O vento gelado traz o inconfundível cheiro de cana queimada, que impregna agora todas as noites depois que os canaviais entraram em cima das outras terras na corrida pelo progresso. Puxo mais para perto o casaco. A Lua, amarela e achatada como uma bola murcha, faz com que eu me pregue no chão. O silêncio de uma cidade adormecida cheira a cinzas. Os olhos ardem, na garganta faz-se um nó. Os olhos se fecham e a melodia leve e triste de um piano se materializa em meus ouvidos. O coração se aperta, se asfixia e se divide.
Alegrias e tristezas andam sempre de mãos dadas.
Uma lágrima escorre pelo rosto ardente.
E o cheiro de cana queimada me envolve a ponto de me levar a um estado de transe.
Revejo cenas confusas, pele, boca, pele, ônibus, pele, salto preto, pele, estátua, pele, farelos de borracha, pele, remédio, pele com pele. Uma bailarina gira infinitamente em meio à névoa asfixiante.
Os lábios se abrem em uma palavra inexistente.
E ao longe, em meio a tanta fumaça, um piano que só eu ouço não pára nunca sua valsa triste.

2 comentários:

Bruna disse...

Fortes palavras...
tudo que escreve parece muito certo; contagiante!!

Beijoo

Bruna disse...

Sim eu gosto muito de Yann Tiersen.
Me inspira, acalma, acompanha minha melancolia, é doce, juvenil...
E por causa dele tô aprendendo a tocar piano, e sonho tocar suasmúsicas.É o que me mantém mais próximo da dança.

Beijo