domingo, 11 de janeiro de 2009

Visões

Pela rua úmida da chuva de um dia inteiro seguia aquele estranho, triste cortejo. Um sem-número de moças cabisbaixas, agarradas aos braços umas das outras, caminhando lentamente, sem vontade, passos trêmulos. Todas, belos, alvos vestidos, cozidos das mais finas rendas e bordados, para recobrir os castos corpos naquele dia que deveria ser o mais especial.
O som das inúmeras saias, de tantos tecidos roçando uns nos outros, passo a passo, era o único que se ouvia, além das tímidas réstias de choros abafadas, e das últimas águas que gotejavam dos beirais de telhados. Passo a passo, as barras branquíssimas daqueles vestidos iam tornando-se marrons, invadidas de barro. Sobre a cabeça de cada moça, sobre cada belo vestido de noiva, um véu negro de luto. Rosários sem fim a se desfiar.
Pobres virgens de sonhos despedaçados, tornadas todas, num golpe só, viúvas, pouco antes de subirem ao altar.

Um comentário:

Mafê Probst disse...

Você escreve muito bem!